segunda-feira, dezembro 29, 2008

à propos d'aujourd'hui

efémeras as palavras, comedidas as ideias e imortais acções.
das palavras às ideias e das ideias às acções.

gosto de pensar que o que escrevo move almas e viverá eternamente.
mesmo mesmo.
até sob pena de eu morrer e ainda ecoarem as minhas palavras por esses ouvidos dessas pessoas.
sendo assim tomo por meu o direito de agradecer a quem me inspira intemporal mente para a escrita.
um obrigado grande, muito.

as vezes duvido.
penso que é como o tempo de antena dos partidos: as letras defendem a ideia, formando palavras.
ficam um bocado parvas arranjadas de maneira a fazer algum sentido.
têm sorte, não estão no intervalo entre a novela e o telejornal, mas sim para toda a eternidade, ou o tempo que este blog durar.
não faz sentido.
se as palavras são efémeras...

então vamos às ideias.
altruístas somos.
defender ideias que são eternas, mas se nós somos efémeros como as palavras...
estou confuso.

é do tempo, é natal.
crise de sentimentos bons que até faz-me sentir mal.

mentira.
estamos entre o natal e o ano novo, de onde sai miscelânea de tudo o que andamos a compilar durante o ano inteiro.
tempo de pouca produtividade no que quer que seja.
depois dos sentimentos bons, volta-se à normalidade.
não é normalidade, é outra crise de sentimentos, desta vez relacionado com o que passou.

vamos entrar no novo ano, e que fica?
promessas, palavras, ideias e acções.
de reter: as acções são imortais.

Mundo dos Sonhos - Em Dois Actos - I






Mundo dos Sonhos - Em Dois Actos - I


SONHO - do Lat. 
somniu
s. m.,
conjunto de ideias e imagens mais ou menos confusas e disparatadas, que se apresentam ao espírito durante o sono;
utopia;
ficção;
fantasia;
visão;
aspiração;

Culin.,

(no pl. ) bolos muito fofos de farinha e ovos, fritos em azeite e passados em calda de açúcar.

Nesta época festiva, seja Yule, Natal, Hunicka ou outra, dei por mim a contemplar um sonho (culinário). Antes de o devorar, contemplei-o, doce, apetecível, degustando mentalmente as texturas, o sabor e as cores. Seria apenas mais um doce no meio de tantos outros mas, como me é característico, contemplei-o um pouco mais que o normal, antes de o provar, divagando. O desejo de o comer acalentou outros pensamentos. O desejo constrói o sonho, o desejo de o alcançar e degustar. E este sonho não era diferente. Queria fazê-lo desaparecer, torna-lo real. E olhando a bandeja de sonhos, de esguelha, deparei-me com o dilema da gula.

Sonhar faz parte da vida de todos nós. Sonhando mantemos a nossa sanidade, alimentamos esperanças, eliminamos obstáculos, mantemos-nos sãos num mundo tão longe do sonho.
Todos temos sonhos e sonhamos. Esta ambiguidade da palavra deriva do facto de se revelar ao nível do imaginário, seja aplicado à realidade ou enquanto dormimos. Tentei avaliar o sentido da palavra, enquanto contemplava o pequeno trambolho frito na minha mão, coberto de açúcar e promessa de prazer ao consumi-lo.

O sonho, o de ter um qualquer bem material desejado, de alcançar uma realização pessoal, profissional, amorosa, académica, etc. é aquele que nos move. Já todos sonhámos acordados, sobre o que poderia ter sido, sobre o que poderá ser, estabelecendo limites e caminhos para um futuro melhor, colocando no mundo dos sonhos metas para se poder avançar. Sonhar acordado é algo banal, é uma forma de perspectivar o futuro, para se assegurar o presente. É doce, imaginar o que consideramos bom e tentar alcança-lo, para podermos saborear.

Dei-me conta que é nisso que se baseia o sonho, no prazer. E que é desse prazer futuro que deriva o nosso sucesso como espécie. Mas também a nossa maior fraqueza.

Como no post anterior, o protagonista sofre com facto do sonho lhe retirar a capacidade de acção, e o agir estar condicionado ao sonho, recolhendo-se na recordação para equilibrar ambos. Esse é o cerne do Homem. O conflito eterno, entre o sonho e a acção para o alcançar, de avançar, apoiado nas recordações do passado.

Mas avançar para onde? Simples resposta: para avançar para lado nenhum. Não interpretem como uma frase derrotista, pelo contrário. Nós (Homo Sapiens sapiens) temos o sonho maior que o das outras espécies que transcende a sobrevivência e o alcançar do conforto mínimo. Somos diferentes porque sonhamos em ter mais. Até aqui tudo bem, pois o conhecimento que adquirimos ajuda-nos a perpetuar a espécie, e a tornar o mundo mais acolhedor para os nossos. Em teoria não está incorrecto.

Mas algures pelo meio, perdemos-nos. Perdemos a capacidade de avaliar o todo, concentrado-nos no particular, no prazer próprio. É ai que a acção tropeça no sonho. Quando agimos, deveríamos ter em consideração os que nos rodeiam assim como a nós próprios. Mas tal começa a se tornar raro. Atropela-se o próximo para se alcançar o sonho, adia-se o sonho de outro para que o o nosso se torne real. Bem sei que não é assim para todos, mas quando se tornou comum este agir em função do sonho pessoal, houve barreiras que deixaram de se tornar taboos. Compreendo que aspirar a mais é normal mas não quando limita as aspirações dos que nos rodeiam.

É quando o sonho se torna egoísta que as coisas correm mal. Quando se olha para um sonho, açucarado, ao alcance, e se deseja a bandeja inteira. Quando o prazer se egotiza, num egoísmo cego, com uma gula que ultrapassa os próprios limites do sonho que temos à nossa frente. Quando a acção se estende, para aproximar o sonho, sem olhar a meios.

A nossa inteligência, incomparável no nosso planeta, de que tanto nos orgulhamos e gabamos, foi consumida pelo estilo de vida que pretendemos levar, individualista, elitista, romano. Havendo para todos, apenas alguns usufruem dos meios para alcançar os seus sonhos.

Temos que nos recordar que, por sermos inteligentes, não podemos ficar com a bandeja de sonhos, porque todos nós queremos um pouco desse doce. Estamos todos ligados e se entrarmos num ciclo em que se tira o sonho do próximo para o nosso ser possível, estamos condenados à extinção, porque com certeza, tentarão fazer o mesmo uns aos outros até não restar mais nenhum sonho.

O Titau, um sonho ideal de fraternidade, de sonho colectivo, ainda está ao alcance se o modo de vida que tentamos preservar se alterar apenas um pouco... de cada vez. Temos de nos re-educar, de partilhar os sonhos para que todos possam alcançar os seus individualmente e ajudar os outros ao mesmo. Não seria mais rápido, indolor e saboroso? Em vez de se lutar pela bandeja de sonhos, passa-la de mão em mão? Todos estamos ligados ao que nos rodeia, e apenas partilhando e preservando poderemos consumir o que necessitamos. Ao partilhar, todos podemos ter o que sonhamos. Pois todos estamos dependentes do sonho, e dos que nos rodeiam.

Titau, o sonho não tão utópico mas que alguns teimam em afastar, por egoísmo, porque querem controlar os sonhos dos outros, impedi-los de sentir o doce que eles próprios sentem. O ritmo do Titau não se adultera. É infinito, é constante, é o sonho dos sonhos, é tudo. E só alcançamos o tudo em conjunto!

O Titau é Tudo, e Tudo é o Titau.

E quem nega esta verdade, condiciona-nos todos á sua vontade e sonho egoísta.

Partilhem o vosso sonho. Partilhem, para que os pesadelos de alguns deixem de existir. E só se partilha sonhos agindo.

Olhando para a bandeja, provei o meu sonho, e quando terminei, peguei na bandeja e coloquei-a a meio da mesa, para que todos os que me rodeavam tivessem acesso ao doce que saboreei. Partilhei a alegria de outros, dos seus sonhos, do seu prazer. O Titau, ritmado, bateu no meu peito ao ritmo das pulsações e pensei, "E se tivesse pegado num coscorão?!?"

Boas Festas e que os vossos sonhos se aproximem da realidade neste Ano Novo, pois assim, o meu também estará mais perto.